MESMO | Ciclo de Conferências SociALMAfra – “Saúde Mental: Para todos, para toda a vida”

Saúde Mental e Ocupacional | Maria João Avelino 

Ciclo de Conferências SociALMAfra – “Saúde Mental: Para todos, para toda a vida”

No dia 24 de Maio de 2018, no Auditório da Loja do Cidadão de Mafra, ocorreu mais uma conferência no âmbito do Ciclo de Conferências SociALMAfra “As pessoas: o nosso património mais valioso”. Dedicada ao tema “Saúde Mental: Para todos, para toda a vida”, a conferência desenvolveu-se ao longo do dia com dois painéis. Os trabalhos iniciaram-se com uma Sessão de Abertura pela Sra. Vereadora da Câmara Municipal de Mafra, Dra. Aldevina Rodrigues, manifestando a sensibilidade da Câmara pela promoção da Saúde Mental da sua população.

O primeiro painel – Saúde Mental: cuidar de nós, pôde contar como moderador com o Dr. Nuno Rocha, psicólogo clínico que desempenha actualmente a função de director-adjunto do departamento de intervenção social e comunitária da Fundação CEBI. Na primeira palestra, a cargo do Professor António Leuschner, psiquiatra e Presidente do Conselho Nacional de Saúde Mental, foi feito um resumo da evolução histórica dos cuidados de Psiquiatria e Saúde Mental em Portugal, com a viragem dos cuidados do tipo hospitalocêntrico para cuidados de proximidade, isto é, para a Psiquiatria Comunitária. Com a organização actual dos Cuidados de Saúde em Portugal foram debatidos os desafios e as preocupações relativas à Saúde Mental do século XXI. A 2ª palestra, levada a cabo pela Professora Teresa Maia Correia, psiquiatra, Directora do Serviço de Psiquiatria do Hospital Fernando Fonseca (HFF) e actual Coordenadora Regional de Saúde Mental da Região de Lisboa e Vale do Tejo, foi sobre a promoção e tratamento da Saúde Mental numa lógica de proximidade. A funcionar desde há vários anos, as estruturas comunitárias do Serviço de Psiquiatria do HFF, constituídas por equipas multidisciplinares e a funcionar em rede com o serviço de Psiquiatria, com os agrupamentos de Centros de Saúde, as Câmaras Municipais da Amadora e Sintra e vários outros parceiros sociais, são um exemplo de como a Psiquiatria Comunitária é um modelo organizacional dos Cuidados de Psiquiatria e Saúde Mental que constitui boa prática. Em 2015 o serviço iniciou o Projecto Semente, financiado pelos EEA Grants no âmbito do Programa Iniciativas de Saúde Pública, que tem por missão promover o acesso a cuidados de saúde dos filhos de pessoas com doença psiquiátrica. Este grupo de crianças e jovens, representa um grupo de risco e tem sido alvo de crescente interesse internacional. Conscientes do impacto da doença mental no funcionamento das famílias, na parentalidade e nos filhos dos utentes, os profissionais do Serviço de Psiquiatria procuram desta forma obter formação, reformular a sua prática e desenvolver boas estratégias focadas na prevenção. Na 3ª palestra, a Doutora Inês Pinto, Psiquiatra da Infância e da Adolescência do Hospital Beatriz Ângelo, fez uma apresentação do seu projecto em que ilustrou que a vinculação, relacionada com a qualidade da relação entre mãe-filho, tem o potencial de afectar o neurodesenvolvimento de sistemas fisiológicos que regulam as emoções e o peso, tornando premente o desenvolvimento de intervenções na qualidade das relações materno-infantis para a promoção da saúde mental e prevenção da obesidade. Por fim, a Dra. Conceição Tavares de Almeida, psicóloga clínica, psicanalista e assessora para a Infância e Adolescência do Programa Nacional para a Saúde Mental da Direcção Geral da Saúde, falou sobre a promoção da Saúde Mental no meio escolar.

O segundo painel – Promoção da Saúde Mental: da teoria à prática, teve como moderador o Dr. José Salgado, psiquiatra e Director da Clínica 1 do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL). O Dr. Juan Sanchez, psiquiatra da Infância e da Adolescência do Hospital D. Estefânia, na primeira palestra deste painel, falou sobre a prática clínica na Promoção da Saúde Mental na Infância e Adolescência e quais as maiores dificuldades encontradas nesta área de intervenção. Auxiliado por duas médicas em formação na área, apresentou dois exemplos de intervenção: o bullying e a depressão. De seguida, a Doutora Inês Camacho, psicóloga e investigadora do Projecto Aventura Social e ES´COOL, apresentou este projecto de Promoção da Saúde Mental em Contexto Escolar, também financiado pelos EEA Grants, o qual surgiu no âmbito do aumento das necessidades na área da saúde mental nas escolas. O Projeto tem como objetivo promover a saúde mental dos adolescentes através da formação de professores e outros profissionais de educação. Visa o desenvolvimento de um programa de competências pessoais e sociais, que inclui a prevenção dos sintomas das perturbações de ansiedade, perturbações do humor, a promoção do bem-estar, da resiliência e autorregulação dos adolescentes e da saúde mental em contexto escolar. O terceiro momento da tarde foi dedicado a uma actuação do Grupo de Teatro Terapêutico CHPL. Dirigidos pela terapeuta Isabel Cristina Calheiros, foi lida uma peça constituída por textos escritos pelos utentes e membros do referido grupo. No final foram assinalados os 50 anos de existência do Grupo e feita uma homenagem ao encenador e fundador do Grupo, João Silva, que faleceu no passado dia 14. Por fim, na qualidade de coordenadora do espaço MESMO – Mafra, Espaço de Saúde Mental e Ocupacional, unidade de Psiquiatria Comunitária que resulta de uma parceria entre o CHPL, Câmara Municipal de Mafra e Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Sul, pude fazer uma apresentação sobre o nosso espaço. Iniciei com uma breve introdução sobre os fundamentos teóricos da Psiquiatria Comunitária, em seguida falei sobre os objectivos da nossa unidade, sobre a equipa multidisciplinar que a compõe e as suas várias vertentes de actuação – Tratamento, Reabilitação e Prevenção em Psiquiatria e Saúde Mental. Apresentei também os resultados de um estudo de avaliação dos internamentos dos utentes de Mafra no CHPL, dois anos antes e 2 anos depois da abertura do espaço MESMO, constatando-se, apesar de pouca diferença no número de internamentos, uma diminuição significativa do abandono do tratamento dos utentes que foram internados após o início do funcionamento do nosso espaço. Por fim, fiz uma reflexão sobre algumas das dificuldades que temos encontrado na nossa actividade, nomeadamente a falta de emprego protegido para reinserção profissional dos nossos utentes e a ainda pouca articulação com os serviços de Psiquiatria da Infância e da Adolescência e as Equipas de Tratamento de Dependências.

Aproveito mais uma vez para elogiar a Câmara Municipal de Mafra, pela iniciativa de organizar esta conferência subordinada ao tema da Saúde Mental e pela escolha dos palestrantes, todos técnicos da área da Psiquiatria e Saúde Mental com reconhecido mérito na área.

 

Maria João Avelino
Psiquiatra e Coordenadora Clínica do MESMO

 

 

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